Crítica – Alice in Borderland (Netflix)

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Velho Também vê série - Crítica: Alice in Borderland (Netflix)
Velho Também vê série – Crítica: “Alice in Borderland (Netflix)”.

Salve pessoas velhas de todas idades, olha só o idoso aqui vindo falar de programa de jovem. Vim aqui fazer a crítica da maluquice que é a série japonesa “Alice in Borderland”. Pelo que entendi a série é exclusiva da Netflix e foi inspirada no mangá de mesmo nome. Eu nunca tinha escutado falar da série, do mangá ou do anime, porém acredito que começou a ganhar destaque depois da febre “Round 6” ter tomado o mundo de assalto. Vamos parar de enrolar e já para crítica, afinal, Velho Também vê série. Só lembrando que não teremos spoilers. 😉

Jogos mortais ou celebração à vida?

Como sempre, vamos à sinopse extraída do aplicativo pai/mãe da criança, Netflix:

“Arisu e seus amigos correm até um banheiro público para se esconderem da polícia, mas quando saem de lá, as ruas de Tóquio estão desertas.”

Essa sinopse não diz praticamente nada, então vou tentar dar um pouco mais do pano de fundo.
A série começa com Arisu (Kento Yamazaki) tendo problemas com seu pai, saindo de casa e buscando refúgio com seus amigos Karube (Keita Machida) e Chota (Yuki Morinaga). Depois de se esconder da polícia, como indicado na sinopse, eles se descobrem em uma Tóquio totalmente vazia. Eles tentam buscar alguma vida ou atividade na cidade, sem sucesso. Quando chega a noite eles acabam descobrindo que terão que ir à uma arena de jogos e participar de um jogo. Também descobrem que existem algumas outras pessoas nesse mundo e que irão participar dos jogos com eles.
Este início eu acho bem interessante, porque você já começa a entender a dinâmica dos três amigos, cada um deles tem uma realidade de vida bem diferente, mas nada que chegue a ser usado para alguma crítica social significativa. Você começa a entender a dinâmica dos jogos junto com eles. E fora isso, temos Tóquio vazia. Totalmente vazia. Ver o famoso cruzamento de Shibuya totalmente vazio em uma cena muito realista é assustador. Você, assim como eu, pode nunca ter ido para Tóquio, mas sempre que indicar como a cidade nunca dorme, e é lotada de gente, mostram este cruzamento (“Resident Evil Afterlife” e “Lost in translation” são dois filmes que consigo lembrar sem me esforçar muito).

Velho Também vê série – Crítica: “Alice in Borderland (Netflix)”.

Falando da história deste mundo, ela não me atraiu tanto, porque me parece ser mais um mistério apenas pelo mistério e sem pretensão de que teremos uma resposta que seja satisfatória ou mesmo faça algum sentido. Só que isso não é nem um pouco importante e se no futuro descobrirmos que eles estavam mortos e aquilo era o purgatório, tudo bem, isso não é o que me atraiu. O que chama atenção é a história dos personagens e o modo que estes são apresentados e construídos. Nada é entregue imediatamente, mas sim aos poucos e em momentos chave para te capturar. O personagem principal da trama é o Arisu, porém a caminhada dele até se tornar o herói da série é pouco usual. Alguns momentos me faziam querer dar uns tapas na cara dele para ver se ele acordava para a vida. Já a Usagi (Tao Tsuchiya), é apresentada com toda a pinta que teremos um personagem clichê, mas ela te surpreende. Além do passado, que faz todo sentido na construção da personagem, ela ainda tem espaço para bastante evolução e se desprender das amarras de roteiro tradicionais. Todos os personagens acabam tendo seu momento de apresentação para te ajudar a criar um vínculo, ainda que temporário, com eles. Importante dizer que não somos bombardeados com flashbacks longos, desinteressantes e didáticos. São pequenos pedaços relevantes para ajudar na identificação. Aliás, essa identificação é facilitada porque os atores, e atrizes, foram muito bem em seus papéis. A chance de tudo ter ficado muito ridículo era muito grande, porque a maioria dos personagens é bem caricato, extrapolando qualquer limite e ainda assim (tendo em mente que é quase um anime) não fiquei incomodado. A única exceção é um personagem específico que destoa em tudo da série, e toda vez que apareceu me incomodou porque definitivamente estava deslocado até neste mundo bizarro. Estou falando do “cara da espada”, que para mim foi uma combinação de atuação ruim com roteiro ruim. Sem falar que me parece algo que só funcionaria mesmo no manga ou anime. Tirando isso, todo o restante das atuações é muito convincente e de acordo com o esperado pelo perfil de cada personagem.

Tenho o hábito de ver dublado todos os programas que são falados em uma língua que não entendo, a menos que o trabalho seja muito ruim ao ponto de me incomodar. Prefiro isso do que perder tempo lendo as legendas e perdendo as caras e bocas dos atores. Aqui o trabalho de dublagem em língua portuguesa está muito bom. Tão bom que fiz questão de assistir alguns episódios uma segunda vez e daí deixando no idioma japonês, que é o original. Incrível como senti as mesmas emoções seja com a voz original ou dublada. Ponto muito positivo para a série, para a Netflix e para o estúdio de dublagem.

Velho Também vê série – Crítica: “Alice in Borderland (Netflix)”.

Voltando para o mundo e suas regras, ou ausência delas. O básico é que eles precisam jogar para estender seus vistos e poderem ficar mais dias neste mundo. Ficar sem visto resulta em morte imediata. Perder no jogo? Morte imediata. Isso quando já não morrem durante o jogo. Sim, podemos dizer que é mais uma distopia com battle Royale. Ainda que os jogos sejam muito bem elaborados e muito diversos, o foco da série não está neles, mas nos personagens e seus desenvolvimentos. Isso não quer dizer que os jogos são ruins, pelo contrário, os roteiristas de “Alice in Borderland” realmente pensaram muito bem em cada jogo. Não foi pensado apenas em como as personagens reagiriam, mas sim como a audiência reagiria. Quando você acha que está entendendo, a série te dá uma chacoalhada com um novo tipo de jogo. Você sai da zona de conforto junto com Arisu e sua turma (se bem que, valendo a vida, eu duvido que alguém sequer caia nessa zona). Vi algumas pessoas comparando com o filme “Jogos Mortais”, porém não consegui estabelecer um elo que não fosse a violência (bem mais leve aqui) e a possibilidade do jogo resultar em morte. A série na verdade me parece uma verdadeira celebração à vida e aos momentos que temos e deveríamos aproveitar. Levando em conta o público alvo, essa segunda mensagem me parece ainda mais significativa.


Diversão para todas idades (desde que acima dos 18 anos)

Sei que os Battle Royale não são novidade, e estão sendo explorados ao máximo em todas as mídias possíveis, porém “Alice in Borderland” consegue se destacar. Normalmente me sinto incomodado ao ver um live action com a estrutura de um anime, porém aqui isso foi algo positivo porque ajudou a encarar toda a violência como galhofa e fica o peso da história dos personagens. Ajuda o fato da série não pretender ser nada mais do que um programa para jovens com grandes objetivos/mensagens aparentes. Ao não se levar tanto a sério, e focar menos no mundo apresentado e mais nas personagens, a série surpreende positivamente. Essa surpresa deve principalmente porque, tanto as atuações quanto o roteiro ajudam muito na sua identificação com Arisu, Usagi e seus amigos/aliados. Apesar da violência e temática pesada, a primeira temporada de “Alice in Borderland” acaba sendo uma boa escolha para deixar seu cérebro descansar enquanto se diverte. O programa pode ter sido feito para jovens, mas vai entreter os velhos que estejam dispostos a encarar o estilo cartunesco, e se você tiver disposto ainda vai encontrar umas questões bem interessantes para pensar depois.

Velho Também vê sério – Crítica: “Alice in Borderland” (Netflix). Nota: 3 de 5 bengalinhas.

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