Salve pessoas velhas de todas as idades, estou de volta com mais uma crítica (bem atrasada) de mais um dorama, ou k-drama, que vi: “Search: WWW”. Mais um que está disponível no catálogo do Netflix. Este dorama foi dirigido por “Jung Ji-Hyun” e “Kwon Young-Il”. O roteiro é assinado pela “Kwon Eun-Sol” em seu trabalho de estreia. Atualmente ela tem outro roteiro de sucesso na Netflix com “Vinte e Cinco, Vinte e Um”.
Antes da crítica, segue a sinopse extraída do app da Netflix:
“De uma hora para outra, Bae Ta-Mi (“Lim Soo-Jung”), diretora de uma plataforma de busca na internet, se vê desempregada graças à deslealdade de uma colega e resolve dar a volta por cima.”
Foi o algoritmo que me sugeriu este dorama e eu sabia zero coisas sobre ele, mas resolvi embarcar na sugestão, afinal, o algoritmo não erra.
A história é focada nas três personagens principais:
- Bae Ta-Mi, interpretada por “Lim Soo-Jung”, é a personagem principal deste dorama. Muito inteligente, pragmática e determinada ela tem a sua carreira impactada por um escândalo. Sua empresa, a Unicon, é acusada de manipular os resultados das buscas para favorecer seus parceiros comerciais.
- Cha Hyun, interpretada por “Lee Da-hee”, é uma mulher forte, independente e muito competitiva, que trabalha na empresa concorrente de Bae Ta-Mi, a Barro.
- Song Ka Kyung, interpretada por “Jeon Hye-Jin”, é uma mulher poderosa e ambiciosa, que lidera a Unicon e vive um casamento arranjado e infeliz.
Como todo bom dorama, além das três mulheres, não podem faltar os interesses românticos delas, são eles:
- Park Mo-Gun, interpretado por “Jang Ki-Yong”, é um homem jovem, na casa dos 20 anos, que trabalha compondo música para jogos e começa a se envolver com Bae depois de passarem uma noite juntos.
- Oh Jin-Woo, interpretado por “Ji Seung-Hyun” é casado com Song, sua família é rica e dona/controladora da Unicon.
- Seol Ji-Hwan, interpretado por “Lee Jae-Wook”, é um ator de doramas em início de carreira e que acaba conquistando o coração de Cha.
A dinâmica da série gira toda ao redor das três mulheres e de seus trabalhos, coloco em negrito porque eu acredito que 70% da série é focada no trabalho delas e isso para mim é um problema, volto neste ponto depois.
A química das três atrizes é excelente, tornando fácil acreditar no relacionamento que elas constroem entre si. Já o relacionamento com seus pares masculinos é um pouco mais difícil de comprar, principalmente a história da protagonista. O ioiô da relação da Bae com Park é cansativo demais, apesar de ser bem interessante ver uma mulher no papel de “boy lixo”. Aliás, a série é totalmente Girl Power, com as mulheres exercendo papeis de poder e agindo como estamos acostumados a ver os homens agirem. Ponto positivo para a série.
É difícil falar deste dorama sem entrar em detalhes que podem ser spoilers, mas tentarei.
Gosto muito da história, porém, acho que gasta-se muito tempo com detalhes do trabalho das protagonistas roubando tempo de tela de outras personagens. Veja bem, não estou reclamando do tempo que passamos no escritório, mas do nível de detalhes e tempo gasto em discussões de pontos específicos do trabalho. Ao final da série eu quase me sentia pronto para trabalhar com elas. O custo disso é que, tirando as protagonistas, todos os outros personagens ficam praticamente sem história. Eles só existem quando estão em cena e isso vale até para os pares românticos. Sabe-se muito pouco sobre eles. Eu sei que o foco é nas mulheres, mas dava para diminuir umas 3 reuniões (trocar por e-mail! rs) e nos contar um pouco mais sobre o presidente Brian (Kwon Hae-Hyo), ou quem sabe sobre as motivações da puxa-saco Na In-Kyung (Yoo Se-Jin). Temos várias personagens interessantes, que aparecem bastante na trama e ficam vazias.
Nada disso tira o mérito que a trama principal é muito boa e você torce totalmente para as três terem sucesso, ainda que isso pareça impossível na maior parte do tempo, afinal, duas delas trabalham em empresas rivais. A maneira que a trama se desenrola é extremamente satisfatória e ao final do último episódio você já está totalmente embarcado com elas.
Se a história principal, contando a volta por cima de Ta-mi, libertação da Song e mudança da Cha, brilha, a história romântica é arrastada e cansativa demais, mesmo para os padrões de dorama.
A história da Song com Jin-Woo é telegrafada do início ao fim, sem apresentar surpresa alguma. Você até se pega torcendo por eles em alguns momentos, mas sabendo qual será o destino e está tudo bem isso.
Já a dupla Cha e Seol é arrastada ao extremo, passando do fofinho para o tedioso. É realmente lento demais até para doramas.
Agora ruim mesmo é o romance principal. Eu entendo que a diferença de idade é uma questão cultural na Coréia do Sul, porém a maneira que a Ta-Mi lida com a situação me parece abusiva, parecendo um boy lixo, que transfere para o outro toda a responsabilidade do sofrimento. É diferente ver uma mulher nesse papel, mas segue sendo tão desagradável quanto ver um homem fazendo o mesmo.
Estes três romances não chegam a deixar a série ruim, mas me fizeram ter dificuldade para querer avançar nos episódios, sendo um dos doramas que gastei mais tempo para terminar.
Normalmente a fotografia dos doramas não me impressiona muito, são bem conservadores no uso das câmeras e enquadramentos. O que costuma me chamar atenção são as diferentes paisagens, mas este chama atenção pela excelente fotografia. A câmera realmente ajuda a contar a história, sendo parte integrante da leitura de diversas cenas. Sem isso estas cenas teriam menos impacto. O nível de produção está praticamente impecável. Só não está perfeito porque todo mundo dirige Maserati, um carro caríssimo até para o padrão Sul-Coreano (sendo bem chato, eu sei).
A trilha sonora é bem suave e chegam a tocar o “Romantic Sunday”, também conhecido como o tema de “Hometown Cha-cha-cha”, outro dorama do Netflix (e você pode ouvir o podcast dele clicando aqui).
Mas tudo isso é só pano de fundo para uma aula de sororidade entre mulheres que deveria ser vista por todo mundo. E não pense que isso acontece de maneira fácil e fantasiosa, tem muito desenvolvimento e muitos momentos que você tem vontade de entrar na tela e chacoalhar as protagonistas para que elas entendam quem realmente são os vilões da história. Fico me perguntando quantas situações desta ocorrem ao meu redor, no dia-a-dia, e eu não sei ou não percebo. Triste pensar nisso e ponto positivo para a série.
Não tem como não recomendar esta série para as mulheres que precisam ver mais exemplos positivos da importância da sororidade feminina e também para homens que poderiam aprender um pouco mais sobre o tema. Essa aula é colocada em uma embalagem tecnicamente impecável, com visual que te envolve e uma trilha sonora que ajuda a conduzir seu sentimento. Fora isso ainda tem uns romances para gente torcer e passar (muita!) raiva. Por isso são 3.5 bengalinhas e a recomendação: assistam.
