O último review de jogo que fiz aqui foi “What Remains of Edith Finch” e daí mais de um leitor me deu a dica de dois outros jogos que seriam ‘parecidos’ e que poderiam me agradar, são eles: “Everybody’s gone to the rapture” e “Gone home”. Como ambos já haviam sido disponibilizados na PSN Plus, resolvi aceitar a dica e jogar ambos. O primeiro escolhido foi “Everybody’s gone to the rapture”.
Vamos ao review, sem spoilers, no melhor estilo Velho Também Joga jogo velho.
O arrebatamento
“Everybody’s gone to the rapture”, desenvolvido pela “The Chinese Room”, se passa no ano de 1984, no fictício vilarejo de Shrosphire (Inglaterra) e conta a história de um “arrebatamento” ocorrido no local. Coloquei arrebatamento entre aspas, porque seria uma tradução para rapture, do título, e porque é um paralelo que fiz enquanto “jogava”. Óbvio que este é um dos objetivos da produtora com a história. Só lembrando, arrebatamento é um conceito cristão para indicar aqueles que serão recebidos no “paraíso” após o fim dos tempos (simplificação muito resumida).
No “jogo”, você seguirá uma forma de luz que irá te guiar por diferentes momentos da história, onde será possível reviver os últimos momentos dos moradores do vilarejo. E é assim que o quebra-cabeça da história vai sendo montado. Com pedaços de situações vividas pelos moradores até o momento de seu sumiço. Além desta luz, também é possível procurar itens como rádios e telefones para ter acesso à trechos importantes da história. Estes trechos são protagonizados quase que exclusivamente pela Dra. Katherine “Kate” Collins e pelo seu marido Stephen Appleton, que podem ser vistos como os protagonistas da história.
A história é até interessante, mas somente após o jogo avançar já que o começo é extremamente tedioso e difícil de acompanhar. Vale destacar que a dificuldade se dá por decisões artísticas e não pela complexidade do que é contado.
Fica muito difícil falar da história sem spoilers, mas mesmo a dúvida que o jogo poderia ter deixado, com relação ao que levou os moradores, praticamente não existe. A história avança e isso vai ficando cada vez mais claro.
Pelo menos a rede de intrigas, fofocas, curiosidades, dos moradores acaba funcionando muito bem e qualquer um que já morou em uma cidade pequena, se identificará com os assuntos banais e como são tratados. Só por isso, e pelo desfecho final, que a nota da história não é menor do que 3 bengalinhas.
Êxtase
O “jogo” “Everybody’s gone to the rapture” é realmente lindo. Quase tudo parece ter sido feito com muito cuidado e dedicação dos desenvolvedores. É importante dizer que ele é jogado em visão de primeira pessoa, o que sempre ajuda a te envolver no ambiente.
A vila é extremamente bem construída e detalhada. Tanto as casas quanto a natureza ao redor estão impecáveis.
O nível de detalhamento é impressionante para um jogo de PS4 em início de geração (2015). Ainda que as casas sejam um pouco repetitivas, ainda assim a curiosidade faz com que você sempre visite a próxima casa, seja buscando história ou apenas para ver como os moradores deixaram a casa antes de fugir.
A configuração que a cidade está, com carros abandonados ainda abertos e com coisas espalhadas dentro dele, as barricadas colocadas para garantir que as pessoas não fugiriam da zona de quarentena, e tantos outros detalhes são um cuidado que realmente te colocam no clima do jogo. O mesmo vale para a natureza ao redor do vilarejo, que também é muito bonita e bem feita. Se o “jogo” não fosse tão chato, seria um prazer gastar tempo observando os campos de trigo, os rios, praças, etc.
Os pontos chave da história são contados de maneira, visualmente, mais caprichada e isso cria momentos espetaculares (aviões, estou falando de vocês) que quase compensam todo o tédio deste “jogo”. Em contrapartida, a decisão de não mostrar os personagens, apenas contornos de luz, foi uma decisão artística que dificulta bastante a compreensão da história, então é um elemento visual que acaba prejudicando a experiência. Ainda que a dublagem em português esteja muito boa, nenhuma voz é marcante o suficiente para que você sabia quem é o dono de cada voz. Cheguei até a fazer o teste trocando para inglês e com isso apenas a voz da Dra. Kate que ficou fácil de identificar por conta do sotaque. Entendo que seja uma decisão artística, porém ela acabou afetando a maneira que eu recebia as informações iniciais, porque eram pessoas irreconhecíveis falando de coisas desinteressantes naquele momento inicial. Acabei optando por ligar a legenda e daí aparecem os nomes de quem está falando no momento. Este motivo me faz reduzir a nota do jogo, mas ainda assim são 3,5 bengalinhas para os gráficos de “Everybody’s gone to the rapture”.
Merecedores
“Everybody’s gone to the rapture” tem trilha e efeitos sonoros quase perfeitos. Incrível como estes dois elementos te ajudam a seguir na tortuosa jornada de 4~5 horas neste “jogo”.
Cada momento tem uma música que cai bem e se destaca muito para um “jogo” que passa longe de ser uma grande produção. Os desenvolvedores realmente conseguem guiar os seus sentimentos.
Os efeitos sonoros da cidade vazia também impressionam e me fizeram até sentir medo e solidão em alguns momentos. Me faziam ficar torcendo para encontrar algum pedaço da história e quebrar o envolvente marasmo sonoro.
A dublagem está impecável, tanto em português quanto em inglês. Os atores entregam toda a emoção que a história precisa. Uma pena que as vozes sejam tão “comuns” e tornem difícil você saber quem é a pessoa que está falando. Não serei repetitivo aqui, mas me parece que o problema não é da dublagem, mas sim do departamento visual que poderia ter encontrado uma alternativa criativa para te auxiliar no processo. Eu não acredito que o mistério sobre quem está falando seja algo que foi pensado para um “jogo” que se resume à você tentar entender a história.
Fim dos tempos
Reparou que tentei colocar “jogo”, “jogador”, “jogar”, sempre com aspas? Pois é, na jogabilidade está o maior pecado de “Everybody’s gone to the rapture”.
Ainda que o jogo traga um level design muito bom, matando a minha curiosidade de como seria ter uma cidade (ok, vila) inteira para explorar, podendo entrar em praticamente todas as casas, isso é um tédio sem fim. Não existe um quick time event, não existe um puzzle, não existe nada que não seja caminhar e caminhar e caminhar… Sim! O jogo se resume à você caminhar, vagarosamente é importante dizer, de um ponto para outro tentando achar fragmentos da história. Isso é tão frustrante que, para mim, coloca toda a experiência por água abaixo. Aliás, eu acho que os próprios desenvolvedores acharam o jogo extremamente e daí incluíram a luz que guia o “jogador” para fazer o básico da história e terminar logo com o sofrimento.
Nem tem muito o que falar da jogabilidade, porque ela não existe. Para mim sequer “Everybody’s gone to the rapture” deveria ser considerado um jogo. Deveria ser considerado um filme com uma burocracia absurda para você ver.
Aqui a nota é fácil 0,5 bengalinhas, e este ponto é apenas por ter matado a minha vontade de ter um jogo aberto que eu possa entrar em quase todas as casas. Uma pena que isso tenha sido tão ruim.
Tédio, tédio e mais tédio
“Everybody’s gone to the rapture” me lembrou quando fui ao cartório registar meu primeiro apartamento: algo que era para ser uma experiência boa e que foi abalada por uma burocracia absurda. Porque é isso que a jogabilidade do “jogo” é: uma burocracia te atrapalhando para receber uma história que até é boa.
Os gráficos, efeitos sonoros, trilha sonora e level design são muito bons e deixam uma embalagem bem bonita, mas a jogabilidade inexistente faz com que eu não indique este “jogo” para ninguém. Fiquem longe. Ainda que você tenha este jogo em sua biblioteca, o investimento de tempo pode ser feito para outra coisa. Acredite, qualquer outra coisa será mais interessante do que “Everybody’s gone to the rapture”. Por isso a nota final será 1 bengalinha.
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