Alô! Alô pessoas velhas de todas as idades, sentiram falta de crítica de dorama, ou k-drama, por aqui? Não precisam sentir mais! Cansado de esperar agenda para gravarmos um episódio do VTNCast sobre “Pousando no amor”, decidi escrever sobre. 😊
Esse dorama já é um pouco antigo, tendo sido lançado entre 2019 e 2020, porém só assisti agora. Se você também estava em Marte e ainda não viu, saiba que a série escrita por Park Ji-Eun, e dirigida por Lee Jung Hyo, mistura romance, comédia e intriga política. Sim, você leu direito: intriga política. Vamos para a sinopse, extraída da Netflix, e você irá entender.
“Um acidente de parapente leva uma herdeira sul-coreana à Coreia do Norte. Lá, ela acaba conhecendo um oficial do exército, que vai ajudá-la a se esconder.”
“Pousando no amor” começa com uma premissa única e envolvente: a empresária (e herdeira) Yoon Se-ri (Son Ye-Jin) decide fazer um vôo de parapente, como parte de uma campanha para sua empresa de produtos de beleza, e acaba se envolvendo em um acidente por conta de um tornado. Ao invés de pousar em Seoul ela pousa dentro da Coreia do Norte. Lá ela é encontrada por Ri Jeong-Hyeok (Hyun-Bin), um oficial do exército norte-coreano que se torna seu protetor e salvador, além de (obviamente, afinal, é um dorama de romance) interesse romântico. Além das diferenças comuns entre os protagonistas, como cultura e personalidades, aqui temos também o bloqueio que existe entre os dois países e todos os desafios vindos dessa divisão.
Os trabalhos de direção e roteiro estão impecáveis, intercalando humor, suspense, romance e muito sentimentalismo (no bom sentido) durante todo o dorama. Não parece existir maniqueísmo ao retratar a Coreia do Norte e nem glorificação ao retratar a Coreia do Sul. Me parece que durante todo o tempo se esquivam de cair no lugar comum ao falar de comunismo e capitalismo. As dificuldades de ambos são bem retratadas, assim como as belezas de cada um dos dois países. Confesso que em alguns momentos a vida “simples” da Coreia do Norte me parecia bem atraente.
Esse roteiro poderia ter se perdido se o elenco não fosse tão bom, com a maioria dos atores/atrizes conseguindo navegar bem entre os diferentes estilos de atuação necessários. A facilidade com que a protagonista consegue nos irritar em um instante e logo depois nos cativar é impressionante. Foi o primeiro dorama que vi com a Son Ye-Jin e já estou buscando outro para ver com ela. A química criada com o Hyun-Bin é muito convincente. Ele também vai muito bem ao ter que navegar entre o patriotismo extremo e o amor que cresce dentro dele. No elenco de apoio também temos atuações primorosas. Não tem como não gostar do oficial Pyo Chi-Su (Yang Kyung-Won) e seu espírito ranzinza aos poucos sendo quebrado pelo carinho que cria pela Yoon Se-Ri. Tem também a Na Wol-Suk (Kim Sun-Young) sendo o espírito da comunidade no pequeno vilarejo norte-coreano onde grande parte da trama ocorre. Não posso deixar de falar também da namorada do protagonista, Seo Ji-Hye (Seo Dan), que consegue transmitir toda confusão que passa em sua cabeça. É muito gostoso ver quando ela bebe e se solta, podendo mostrar uma personagem mais leve e divertida. Já o vilão, Cho Cheol-Gang (Oh Man-Seok), é bem clássico e não tem muitas nuances, ele é malvado e pronto. Isso acaba restringindo o alcance da atuação do Oh Man-Seok.
Uma característica que sempre procuro nos doramas é a viagem virtual pelos locais retratados e aqui o trabalho de fotografia brilha. O contraste entre o Sul rico e o Norte austero é retratado de maneira muito convincente. Também temos um contraste ao retratar as paisagens pitorescas da Coreia do Norte e as movimentadas ruas da Coreia do Sul, enfatizando a divisão entre os dois mundos. Isso é sempre importante, já que o cenário é um personagem importante para este dorama. Por mais que os diálogos sejam bem escritos, tudo poderia se perder se os cenários ficassem muito parecidos. Também ficaria muito fácil não comprar a história se tudo fosse muito artificial, o que não é o caso aqui e a fotografia ajuda a nos colocar dentro deste mundo. O figurino e os cenários construídos também jogam a favor da trama. A qualidade de produção da série é muito alta, com destaque para a vida na Coreia do Norte. Tudo me parece impecável.
Outro aspecto técnico impecável é a trilha sonora, participando ativamente dos diferentes momentos da trama. Essa trilha fez tanto sucesso, que fizeram uma série de posters promovendo cada uma delas como se fossem filmes no Netflix.
“Pousando no amor” é um dos melhores doramas que já vi. Reforçando que eu sempre busco temas leves para escapar um pouco do dia-a-dia que é bem corrido e puxado. A série mistura muito bem um romance leve com um tema geopolítico pesado, sabendo alternar o bom humor e o drama. Ela acerta ao não tentar glamourizar, ou demonizar, nenhum dos dois países. Tudo isso com o apoio de um elenco afinado e uma produção de alta qualidade, fazendo com que a série fique por um bom tempo na lembrança de quem assistiu. Foi uma das melhores séries que vi neste ano, sendo assim, não tem como não recomendar para todo mundo que já conhece ou quer conhecer os doramas coreanos, ou simplesmente k-drama. Com tudo isso, “Pousando no amor” leva 4,5 de 5 bengalinhas.