Crítica – Cobra Kai (Temporadas 1 e 2)

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Ataque primeiro – Ataque com força – Sem piedade

Não tinha como começar diferente, não é? Acho que esta frase resume bem o que a série faz já quando você aperta o play. Ela ataca sua nostalgia sem dar tempo de reação, faz isso com força e não tem piedade.
Pegando embalo na febre oitentista temos o retorno da franquia Karate Kid (sim, eu sei que teve um filme estes dias, mas eu não era o público alvo e não vi) tentando tirar uma lasquinha desta febre, ou assim eu pensei que fosse.

Review Cobra Kai

Confesso que resisti bastante e só fui ver o seriado mês passado (Novembro de 2020), mesmo com diversos amigos falando que era bom e recomendando. Eu achava que eles estavam iludidos e felizes de ter saudosismo jogado na cara deles. Como ando cansado de produtos que sentam em cima deste sentimento e não me entregam nada de relevante, só comecei a ver o seriado por “acidente”, um acidente com o controle remoto (coisa de velho). Liguei a TV, carreguei o Netflix e escolhi o seriado errado. Quando voltei com a pipoca, já estava na tela a luta entre os jovens, Daniel LaRusso (Ralph Macchio) e Johnny Lawrence (William Zabka). Eu falei que série ataca primeiro, não falei? Não teve jeito e depois de ser fisgado resolvi dar uma chance para nossos amigos caratecas (sim, karate é caratê e por isso temos caratecas).

De volta para o futuro

Aviso: contém spoilers das temporadas 1 e 2.
O seriado se passa nos dias atuais, uns 30 e tantos anos após a luta final entre os rivais adolescentes. Todo o começo é centrado em mostrar como está a vida do antigo playboy/bully Johnny Lawrence, agora retornando como protagonista da série. (Aqui vale um parêntese. Sei que depois de “How I met your mother” muita gente afirma que gostava dele ao invés do “Karate Kid”, mas no meu caso acabou se tornando verdade. O filme original foi uma febre e toda criança passou a simular os golpes e incluir cenas do filme em suas brincadeiras na rua. A briga da molecada era para saber quem seria o Daniel no dia, e como o velho aqui era loiro, sempre sobrava para mim o papel do vilão, sem nunca ter tido a chance de simular o famoso chute da garça. Também nunca fui o Didi Mocó quando a brincadeira era algum filme dos Trapalhões…)

A primeira temporada estabelece o mundinho da série. Vemos como a vida de Johnny seguiu após o torneio de 84 e ela não poderia estar pior. O personagem não tem objetivos, abandonou seu filho e sua ex-mulher, acaba de perder mais um emprego, flerta com o alcoolismo (se já não for alcoólatra) e termina suas noites vendo filmes de ação dos anos 80 (inception de nostalgia dentro da nostalgia?).
Acompanhamos os desafios dele para se adequar aos tempos atuais, afinal, está preso nos anos 80, com todos seus pensamentos e preconceitos. Também temos seu início como sensei do dojo Cobra Kai, enquanto encarna uma versão hardcore de Sr. Miyagi (Pat Moritta), sendo professor e figura paterna para Miguel Diaz (Xolo Maridueña).
Do outro lado temos Daniel San, vivendo o sonho americano. Está casado com Amanda LaRusso (Courtney Henggeler), é pai da Samantha LaRusso (Mary Mouser) e de um outro menino que nem ele se importa, além de ser dono de uma rede de oficinas e lojas de carro. A maneira como Daniel é inserido na série é muito boa e crível, já que diversos acontecimentos vão fazendo com que as histórias deles se cruzem. Mesmo quando sua crise de meia idade chega ele descobre que os Cobra Kai estão de volta e começa também o seu dojo, com apenas um aluno, Robby Keene (Tanner Buchanan) que ele não sabe que é filho de Johnny, é possível entender seu pensamento. O “dojo do mal” causou um grande trauma em sua vida e ele tem medo que o mesmo possa acontecer com seus filhos e os amigos deles. Ainda que Daniel não seja mais o protagonista, a série não cai na tentação de colocá-lo como um grande vilão. Ponto positivo.
Também é interessante ver como o caratê vai mudando a vida dos adolescentes até culminar no ponto alto da série, o torneio All Valley para jovens menores de 18 anos, vencido por Miguel em uma luta “sem piedade” contra Robby. O resultado do torneio, e a maneira como ele acontece, é o gancho para segunda temporada.
Gosto bastante das atuações de Ralph e William. Parece que realmente estou vendo os antigos adolescentes na vida adulta. É uma perfeita evolução do que vimos 30 anos atrás. Eles parecem estar tão à vontade que me pergunto se não são realmente assim. Não é a toa que estes foram seus papéis mais marcantes. É possível sentir todo o peso dos anos de fracassos de Johnny, apenas pelo olhar de Zabka sabemos e o quanto é difícil para ele tomar algumas decisões. A interpretação de Macchio faz você acreditar na indignação e na crise que passa Daniel.
Outro destaque positivo é a atriz Courtney, que faz o papel da Amanda. Eu só a conhecia de pequenas participações como a irmã do Sheldon em “The Big Bang Theory”. Ela consegue trazer humor e quebrar a tensão mostrando o quanto é ridícula a disputa dos dois rivais. Ao mesmo tempo ela consegue mostrar o estrago que isso está fazendo na vida dos LaRusso.
É legal destacar, do núcleo malhação adolescente, Xolo, no papel de Miguel e Jacob Bertrand no papel de Hawk. O primeiro segura muito como protagonista teen e o segundo vai muito bem na transformação do coitadinho para bad boy. Em compensação é sofrível demais ver todas as cenas do Robby (Tanner). Algumas cenas são tão constrangedoras que me pergunto como foram para o corte final.
No geral eu acho esta temporada muito boa e se eu tivesse visto quando saiu, certamente teria ficado ansioso pela segunda.

Para a segunda temporada o clima da trama fica mais pesado, pois temos o retorno de John Kreese (Martin Kove) trazendo tudo de pior que os Cobra Kai tinham. Como reflexo da vitória no torneio, os Cobra ganham ainda mais alunos, mas é lógico que o método “sem mimimi” de Kreese acaba afugentando grande parte deles e com isso o dojo Miyagi-Do, que tinha apenas Sam e Robby como alunos, passa a ficar maior, permitindo até algumas brigas maneiras entre os dois dojos. Ao mesmo tempo Johnny descobre a internet (Tinder!) e desenvolve um interesse romântico com Carmen (Vanessa Rubio) a mãe de Miguel. Daniel tenta salvar seu casamento e o destino acaba fazendo com que os rivais cheguem bem próximo a ter uma amizade. Pena que tudo isso é colocado a perder quando o núcleo teen se envolve em uma briga gigante no colégio e Miguel termina no hospital.
Esta temporada é mais difícil de ver e seguir conectado. A decisão de Johnny aceitar Kreese de volta ao Cobra Kai é péssima e exige um esforço para que você entenda que o cara passou a adolescência nesse relacionamento paternal abusivo. O sentimento de frustração é constante ao ver que Lawrence faz tudo certo e ainda assim tudo dá errado. Fora isso você tem que lembrar dos seus tempos de adolescente para entender as besteiras que essa galera faz. Puxando da memória é quase certeza que vai lembrar de coisas parecidas que você ou seus amigos fizeram.
Acho que a série segue boa e empolgante justamente por conta das atuações. Martin Kove chega com tudo e o Kreese atual não deve nada ao do passado. Vanessa também vai muito bem nas pequenas chances que tem de aparecer. Ralph e William estão ainda mais confortáveis no papel. Tenho a impressão de que realmente se divertem fazendo a série. Dos adolescentes eu acho que Mary Mouser está muito melhor no papel de Sam e Tanner segue sendo ruim, muito ruim. Novamente tem cenas dele que eu me pergunto como ficaram no corte final do seriado. Xolo está muito bem novamente e seu Miguel evolui bastante. Além deles temos a adição de Peyton List, interpretando Tory, que não compromete e ajuda a botar fogo na molecada, pois, com ela é formado um quarteto(?) amoroso incluindo Sam, Robby, Miguel e Tory.  
Em minha opinião, a série fica ainda melhor, mas gostaria de ressaltar que ela passa a exigir mais de você, pois, estamos falando de adolescentes fazendo besteira sendo adolescentes e de adultos na casa dos 50 anos que não mudam a personalidade como em um passe de mágica. As mudanças destes adultos são lentas e podemos ver que estão acontecendo.
O final me pareceu promissor, pois, eu acredito que teremos a volta de Ali (será que volta também Elisabeth Shue?) já que ela é médica justamente cirurgiã pediatra. Certamente verei a terceira temporada assim que for lançada.


TL;DR – Muito longo, não li (ou queria fugir de spoilers)

Cobra Kai é uma dose gigante de nostalgia bem aplicada. A série é recheada de lutas muito bem coreografadas e que dispensam o uso de efeitos computadorizados (por que hoje em dia tudo tem que ter CGI?), dramas de adolescentes bem ao estilo das primeiras temporadas de Malhação e ainda mata nossa curiosidade de saber como anda a vida de Daniel Larusso e Johnny Lawrence após tantos anos. Quase todos atores do núcleo principal, estão muito bem em seus papéis, ao ponto que Ralph e William parecem ter acabado de sair do primeiro filme. Com isso, faço uma pergunta: quantas vezes podemos rever nossos “heróis” do passado de maneira tão respeitosa e com tanta qualidade? Pois é, raríssimas vezes. Por tudo isso para mim Cobra Kai é:

4 de 5 bengalinhas (pode ver sem medo)

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