Salve pessoas velhas de todas as idades, estavam sentindo falta de crítica de filme por aqui? Eu estava. Tenho tentado me organizar para ter pelo menos um review ou crítica por semana no blog, vamos ver por quanto tempo consigo.
Esta semana eu vi “Sete minutos depois da meia-noite” e, apesar de ser um filme antigo, fiquei com vontade de falar sobre ele (sem spoilers), afinal Velho Também vê filme.
Já quero adiantar que tenho uma tendência a gostar destes filmes em que crianças passam por situações difíceis e buscam refúgio em sua imaginação. Não por acaso dois dos meus filmes prediletos são “Onde vivem os monstros” e “O labirinto do fauno”.
Combater nossos demônios, ou árvores, interiores
“Sete Minutos depois da meia noite”, que é dirigido por Juan Antonio Bayona, tem como base o livro de mesmo nome, que foi escrito por Patrick Ness (baseado em uma ideia original da escritora Siobhan Dowd). O filme conta a história de Conor O’Malley (Lewis McDougall), um garoto de 12 anos, “muito velho para ser criança e muito novo para ser adulto”, que atravessa um momento de vida muito complicado e triste. Seus pais são separados, sua mãe (Felicity Jones) está morrendo por conta de um câncer terminal, ele não se entende com sua avó (Sigourney Weaver) e ele ainda sofre com bullies na escola. Dá para imaginar um cenário pior para um pré-adolescente? Pois, anota aí que toda noite ele tem o mesmo pesadelo: sua mãe sendo engolida por uma cratera no chão e ele acorda desesperado. Sua vida segue miserável assim até que um dia o sonho muda e uma árvore-monstro gigante (dublado por Liam Neeson) desperta e diz que irá contar 3 histórias para ele e ao final delas irá pedir para que ele conte seu pesadelo. Ah, faltou só dizer que tanto os pesadelos quanto os sonhos com o monstro ocorrem sempre às 12:07 AM (daí o nome do filme em português).
Cada uma das 3 histórias contadas, pelo monstro, vai abordar diferentes aspectos da natureza humana, como bondade, maldade, fúria, etc. O roteiro, que é escrito por Patrick Ness (autor do livro) é muito bem construído, então as histórias tocam não apenas o protagonista como também quem está vendo o filme.
Eu só conhecia dois filmes deste diretor, que eram: “O impossível”, que fala sobre o tsunami na indonésia, e “Jurassic World: Reino Ameaçado”, então não tinha muito ideia do que esperar para este filme e devo dizer que fui pego de surpresa pela qualidade do que encontrei. A direção das cenas e dos atores muito boas, com o diretor sabendo dar a dinâmica certa para os momentos de ação, mesmo os que se são contados na forma de desenho animado. Além disso ele conseguiu extrair bastante sentimento dos atores, sem pesar no drama ao ponto de ficar piegas e forçando para fazer a audiência chorar. Sei que tem muito mérito do texto que foi entregue para ele trabalhar, mas ainda assim ele brilha por saber nos mostrar isso.
Gostei de todos os atores, com destaque para o Lewis que eu nunca tinha visto atuando, mas que segurou muito bem o protagonismo. Me surpreendi positivamente também com a Felicity, que eu demorei para lembrar quem era, me fazendo passar os primeiros minutos de filme pensando “nossa eu a conheço de algum lugar”. Ela se transformou não apenas fisicamente, mas também subiu a barra na interpretação e se descolou dos papéis que a vi fazendo antes. Olha que o desafio do Lewis e da Felicity foi grande, afinal eles contracenam com a Sigourney Weaver em cenas muito difíceis, em que ela foi muito bem, podendo deixar uma diferença de atuação que comprometeria o filme. O último destaque eu queria dar para o trabalho de voz de Liam Neeson, que mesmo ajudado por efeitos, consegue carregar de emoções o seu Monstro.
A trilha sonora do filme não compromete e contribui para uma experiência bastante agradável. No meu critério pessoal de “lembrarei desta trilha?” ela não me marcou, mas definitivamente foi notada durante cada uma das cenas.
Agora, destaque maior eu quero dar para a direção de fotografia e para a direçào de arte. Que espetáculo visual este filme. Ainda não tive a oportunidade de ver o livro inteiro, mas as ilustrações que eu vi indicam que o estilo de arte escolhido casa bem com o original. Além da visual do “mundo real”, temos também as animações para contar cada uma das histórias. Estas histórias são bem maduras e não faria sentido ter um desenho animado no estilo Disney, então a escolha foi ir para algo mais estilizado e que deu o tom certo para as histórias. Foi um filme que me deu vontade de ir atrás de artbook, ver cenas de making off e tudo mais. Deu vontade de ter me inserir um pouco mais neste mundo e conhecer os detalhes.
Conto de fadas sombrio e profundo
“Sete minutos depois da meia noite” é um filme que iria passar despercebido se não fosse a dica de uma amiga e isso seria uma pena, porque é uma obra muito bem executada. A história é muito rica e profunda, funcionando como uma espécie de conto de fadas mais sombrio, digna de ser comparada com “O labirinto de fauno”. Fora isso, o filme tem qualidades técnicas dignas das grandes produções do cinema, contando com um elenco pequeno, mas com excelentes atores que estavam empenhados em entregar o drama de seus personagens. O roteiro é bem construído e não trata a audiência como incapaz, ele entrega bastante coisa, mas deixa diversas camadas para você seguir pensando e interpretando o que acabou de ver. Tudo isso é muito bem amarrado por uma direção sólida e que não se perde tentando deixar uma assinatura que seja maior que o filme.