Velho Também lê mangá. É isso aí, levou mais de 40 anos, mas finalmente li o meu primeiro quadrinho japonês. Eu nem sabia que no Brasil eles eram impressos para serem lidos igual no Japão: de trás para frente e da direita para a esquerda. Óbvio que comecei errado, mas já tinha um aviso indicando como fazer o certo.
A escolha do mangá foi bem fácil, “Demon Slayer: Kimetsu no Yaiba”. Comecei a ver o anime, disponível no Netflix, e fiquei maluco com o tanto que gostei da história. Sem condições de esperar mais alguns anos para saber a história inteira, parti para ler o mangá que já está completo e disponível.
Primeira Forma: Corte da Superfície da Água
O mangá “Demon Slayer” começa com o protagonista, Tanjiro, enfrentando a tragédia da morte de sua família por Onis, e sua irmã, Nezuko, sendo transformada em um deles. Os Onis da história são semelhantes a vampiros, possuindo várias habilidades sobrenaturais e sendo vulneráveis apenas quando decapitados por espadas especiais chamadas Nichrin-tou (Espada do Sol), feitas com um mineral especial que absorve a luz do sol. Esses demônios são alvos dos “Demon Slayers”, caçadores especializados. A introdução a esse universo é feita de forma direta e compreensível.
Toda a jornada inicial de Tanjiro, que é apresentado como um lenhador totalmente dedicado à sua família, é muito bem contada e equilibra bem horror, ação e emoção. Ela flui de maneira convincente, fazendo com que ele se encontre com “Giyu Tomioka” um Hashira (um caçador de demônios de nível mais alto) e este o encaminhe para ser treinado pelo “Sakonji Urokodaki”. Se tenho algum ponto de crítica para esta primeira edição, seria para o treinamento, que acontece não é tão detalhado, a autora indica o tempo que é gasto, mas não sinto este esforço todo. Gosto mais desta parte no anime, mas entendo que a decisão seja para que alguns conceitos sejam apresentados, e explicados, quando a história avançar.
Não vejo nesta primeira edição a famosa jornada do herói, porque ele vai sendo empurrado para a ação e aceita isso sem hesitar. Em alguns momentos ele pode até não se achar capaz e reage feito um bebê chorão, mas a motivação de tentar salvar sua irmã se faz presente e o empurra para frente com força total.
Incrível como a construção dos personagens é bem feita e me dá vontade de seguir sabendo mais de cada um deles, ainda que eu já tenha avançado bastante na história pelo anime.
Segundo Forma: Roda da Água
Além da boa história, a arte de Gotouge é impressionante. Já escrevi isso no texto sobre “Maus”, mas não sou fã de quadrinhos preto e branco, sempre acho que vou me perder, porém isso não acontece neste mangá. Os cenários, ambientados no Japão do período Taisho (1912-1926), possuem uma riqueza de detalhes impressionante e adicionam um pano de fundo interessante, já que este período foi marcado por avanços democráticos, influência ocidental e transformações sociais. As cenas de ação são muito fluidas, passando a sensação de movimento com uma plástica linda. Os “golpes especiais” ficaram lindos demais e mesmo com muita brutalidade não há um sentimento de violência gratuita (talvez a ausência de cor, suavize este ponto). Os personagens possuem características físicas próprias, sendo possível diferenciar todos eles e entender a emoção que estão passando, fazendo com que as cenas mais tranquilas, desenvolvendo personagens, também sejam ricas fazendo um bom contraponto com as cenas de ação.
Terceira Forma: Dança dos Movimentos Rápidos Padronizados
Minha primeira experiência com mangás não poderia ter sido melhor, “Demon Slayer” tem uma combinação arrasadora de história profunda com arte impecável. Não sei o quanto essa opinião é embalada pela minha experiência com o anime, mas acho que essa primeira edição é um bom sinal e certamente vou ler a segunda edição, então 5 bengalinhas para “Demon Slayer”.